2010-01-18


Quando eu era puto, nos primeiros tempos decidi que queria ser bombeiro, ajudar as pessoas, apagar incêndios, andar em carros grandes com aquela cor vermelha, os barulhos das sirenes, com o tempo e com o crescimento descobri que bombeiro não era o meu sonho, então achei que ser medico tinha mais haver comigo, recordo-me que durou mais do que a parte de ser bombeiro, mas pouco tempo durou, até ao dia que descobri os projectos do meu pai em cima da secretaria, os rascunhos que ele fazia questão de deixa-los desarrumados em toda a parte do seu escritório e não haveria maneira de o limpar, ele fazia questão de voltar a fazer asneiras mal acabassem de o fazer, comecei a sentar-me ao lado dele, a ver o movimento do lápis a desenhar em cima de grandes folhas de papel, um apontamento ali, outro apontamento aqui, e mais um e logo a seguir outro, umas medições, um pensamento, uma duvida e depois a certeza e dava como concluído, considero que naquela altura foi uma das melhores maneira que encontrei de saber o que era ter um pai, se bem me recordo foi ai que te tornaste no meu verdadeiro amigo, do que um pai; Mas não descobriste logo o meu talento na arquitectura, foram preciso meses e meses de luta, claro que isso não passou em pune nos olhos da minha mãe, que deu logo por ela quando começou a ver os meus desenhos, apanhava-me no quarto a brincar aos engenheiros e a falar como tal, fez questão de te contar mal descobriu essa situação, ouve alturas que duvidaste na sua afirmação, acharias que não era possível, não me tratavas como filho mas como um amigo, que de vez em quando ensinavas alguns truques davas um ou dois conselhos sobre as miúdas, e logo a seguir desligavas por completo na parte de ser pai, mas não me importo, admito que sempre gostei mais de ti como meu amigo do que um pai que não saberias ser, falhaste em muitos aspectos, mas eu também falhei em metade deles como filho, quando querias chamar-me, ou quando me chamaste e decidiste que estava na altura de ser pai, armei-me em filho mal educado e não te aceitei, falava contigo o menos possível desde que tiveras saído de casa, e tenhas ido viver para o Porto, pouco tempo lá ficaste, há primeira oportunidade que surgiu na tua profissão fizeste as malas e saíste de Portugal, mais tarde descobrimos da pior forma o que tiveras feito na tua vida, mas perdoei-te, e voltava a perdoar quantas vezes fossem necessárias, tudo isto para concluir que segui os teus passos, quando entrei no secundário e deixei o liceu quis logo de inicio seguir artes, enquanto olhava para a cara de todos os meus amigos, indecisos nos cursos que queriam seguir, via a cara deles preocupados se estariam a escolher o curso certo, e ainda tive duas situações que dois deles trocaram de curso umas duas vezes, não tive duvidas no curso que escolhi, e quando dei entrada na faculdade uma das melhores de arquitectura foi como uma vitoria superada, e continua a ser; Apesar de teres chegado tarde para ser o meu pai, e quando decidi que estava preparado para ser teu filho, e que tínhamos uma relação estável entre ambos, a vida prega-nos uma partida, entramos no jogo, uns ganham outros perdem, e neste caso deixei de ser eu a ver o teu crescimento como pai, foste embora sem nenhuma explicação nem sequer com uma oportunidade de dizer-te adeus, desde que eu era pequeno me dizias que não gostavas de despedidas, estavas sempre a dize-lo quando ias para longe em trabalho e eu teria que ficar, e ficaria sem o meu melhor amigo durante uns dias, que na verdade as vezes pareciam anos, não te critico por não saberes ser pai, e não te critico pelas vezes que meteste a tua profissão em primeiro lugar, hoje entendo o porque de a teres feito, e orgulho-me muito do maravilhosos dom que tu tinhas, com um lápis e uma folha; Continua a ver o meu crescimento, que eu ficarei com o teu nas memorias que me lembram de ti.

1 comentário:

  1. volto a dizer, gosto. é o modo como escreves.

    ( http://meuamrpraxmp.hi5.com )

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